Segundo a fundação pública federal Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) consiste no direito da população ao acesso permanente e regular a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem prejudicar o alcance a outras necessidades essenciais. Já a insegurança alimentar (IA) corresponde ao não acesso da população a tais direitos – ou seja, quando a SAN não é integralmente garantida. Nesse caso, a pessoa não sabe quando será sua próxima refeição, ou não consegue garantir que seus alimentos serão adequados em quantidade ou qualidade, de forma que sua nutrição e seu bem-estar ficam comprometidos.
A insegurança alimentar pode ser classificada em 3 categorias, segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia):
- IA leve: qualidade da alimentação comprometida, resultando de estratégias para não comprometer a quantidade de alimentos;
- IA moderada: restrição na quantidade de alimentos entre adultos e/ou modificações nos padrões de alimentação entre adultos;
- IA grave: quebra do padrão usual da alimentação, comprometendo a qualidade e reduzindo a quantidade de alimentos não só entre adultos, mas para todos os membros da família (incluindo crianças).
Mas quais são as causas da insegurança alimentar?
A insegurança alimentar está evidentemente relacionada a situações de vulnerabilidade social e econômica. Segundo um estudo feito pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), alguns fatores vêm contribuindo com o aumento da insegurança alimentar em diferentes regiões do mundo, incluindo as alterações climáticas extremas, conflitos e crises econômicas. As temperaturas extremas podem gerar problemas no cultivo dos alimentos; já os conflitos podem impedir o acesso à comida. A guerra na Ucrânia, por exemplo, provocou deslocamento e desabastecimento entre milhares de refugiados, compromentendo sua segurança alimentar. De forma semelhante, a pandemia da COVID-19 também gerou uma crise econômica que diminuiu a renda das famílias e aumentou o preço dos alimentos, prejudicando o acesso a recursos alimentares. No Brasil, a pandemia agravou ainda mais a IA já existente, pois acentuou as desigualdades sociais.
Quais são as consequência da insegurança alimentar?
A IA também pode levar ao consumo de alimentos de baixo valor nutricional. Dessa maneira, as consequências podem incluir:
- Perda de energia e consequentes problemas nas funções física e cognitiva;
- Desnutrição ou sobrepeso;
- Comprometimento do sistema imunológico;
- Comprometimento no desenvolvimento;
- Fome;
- Morte.
Mas qual é a diferença entre a insegurança alimentar e a fome?
Segundo a FAO, a fome é uma dor ou desconforto físico causado pelo consumo insuficiente de energia alimentar. Já a insegurança alimentar considera a quantidade e a qualidade dos alimentos sobre os quais a pessoa tem acesso, assim como as causas disso. Em outras palavras, a fome é a sensação desconfortável que qualquer pessoa sente quando fica algumas horas sem se alimentar. Essa sensação é eliminada assim que a pessoa ingere algum alimento. Mas a insegurança alimentar não é eliminada com uma boa refeição, e pode estar presente mesmo para uma pessoa que não está sentindo fome naquele momento. A insegurança alimentar está ligada a um contexto de acesso insuficiente a alimentos em quantidade e/ou qualidade adequados.
Existe insegurança alimentar no Brasil?
De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil, publicado em Junho de 2022, 33 milhões de brasileiros passam por insegurança alimentar e somente quatro em cada dez famílias têm acesso integral à alimentação. Desde o último inquérito, realizado em 2020, o número de pessoas passando por IA aumentou em 14 milhões.
No Brasil, a má distribuição de terras para o plantio de alimentos para consumo direto é um agravante da insegurança alimentar. Além disso, a grande maioria das terras agricultáveis pertencem aos latifundiários do agronegócio, de forma que são usadas para a exportação de commodities como cana-de-açúcar, soja e trigo.
Vale relembrar que desde 2018 o Brasil retornou ao Mapa da Fome da ONU. Um país só é admitido nessa classificação quando mais de 2,5% de sua população enfrentam falta crônica de alimentos. Em 2022, a fome crônica atingiu 4,1% da população no Brasil.
O representante da FAO no Brasil ressalta que políticas que atuem no combate à fome são urgentes para o país. Alguns exemplos incluem o apoio e fortalecimento da agricultura familiar; a reforma agrária; o abastecimento alimentar e de água; programas de complementação de renda; entre outros. A insegurança alimentar só pode ser combatida com a união de todas as esferas públicas e com a contribuição de instituições privadas e da sociedade civil.